O Banco Central divulgou nesta terça-feira (24) os números das contas externas do Brasil em outubro, e o resultado mostra um déficit de US$ 5,121 bilhões. Parece muito dinheiro, né? E é. Mas calma: comparado com o mesmo mês do ano passado, quando o rombo foi de US$ 7,387 bilhões, até que houve uma melhora considerável.

O que são essas contas externas?

De forma bem direta: as transações correntes representam tudo que o Brasil compra e vende lá fora — desde soja e aviões até serviços como consultorias, pagamento de juros de dívidas e lucros que empresas estrangeiras mandam de volta para suas matrizes.

Quando esse saldo fica negativo, significa que saiu mais dinheiro do país do que entrou. E isso tem impacto direto no dólar, na inflação e, claro, no bolso de quem empreende ou depende de importações.

Por que o déficit diminuiu em outubro?

A boa notícia veio da balança comercial. O Brasil exportou US$ 32,111 bilhões e importou US$ 25,941 bilhões, gerando um superávit de US$ 6,170 bilhões — quase o dobro do registrado em outubro de 2024. Isso aconteceu porque nossas exportações cresceram 8,9% enquanto as importações caíram 1,3%.

Traduzindo: vendemos mais commodities para fora (agro não para!) e compramos menos produtos de outros países. Essa combinação ajudou a fechar a conta de forma menos negativa.

Mas nem tudo são flores…

Enquanto a balança comercial deu um alívio, o déficit em renda primária aumentou US$ 838 milhões. Essa conta registra o pagamento de juros da dívida externa e os lucros que empresas multinacionais instaladas no Brasil enviam para suas sedes no exterior.

Ou seja: o Brasil continua pagando caro para financiar suas operações e remunerar investidores estrangeiros. É o preço de ser um país ainda dependente de capital externo.

E no acumulado de 12 meses?

Aqui a situação fica mais tensa. O déficit em transações correntes nos últimos 12 meses chegou a US$ 76,727 bilhões, o equivalente a 3,48% do PIB. No mesmo período do ano anterior, esse rombo era menor: US$ 57,341 bilhões, ou 2,57% do PIB.

Isso mostra uma tendência de piora desde março de 2024. Apesar disso, o BC afirma que o déficit está sendo financiado por investimentos diretos no país (IDP), que são capitais de longo prazo aplicados no setor produtivo — a forma mais saudável de cobrir esse rombo.

Viagens internacionais e serviços digitais: vilões do mês

O déficit na conta de serviços foi de US$ 4,372 bilhões em outubro. Dois pontos chamam atenção:

  • Serviços de telecomunicação e TI: as despesas líquidas subiram 142%, chegando a US$ 591 milhões. Isso reflete o quanto empresas e pessoas físicas brasileiras gastam com softwares, serviços em nuvem e plataformas digitais.
  • Streaming e propriedade intelectual: alta de 35,6%, totalizando US$ 995 milhões. Netflix, Spotify, Amazon Prime… tudo isso pesa na balança.
  • Viagens internacionais: brasileiros gastaram US$ 1,916 bilhão lá fora, enquanto turistas estrangeiros deixaram apenas US$ 573 milhões por aqui. Resultado: déficit de US$ 1,343 bilhão, 14,5% maior que no ano anterior.

Ou seja, estamos viajando mais e consumindo mais serviços digitais estrangeiros — o que é ótimo para a qualidade de vida, mas pesa nas contas externas.

O que financia esse rombo?

A boa notícia é que o Brasil conseguiu atrair US$ 10,937 bilhões em investimentos diretos só em outubro — bem acima dos US$ 6,698 bilhões de 2024. Esses investimentos vão para a economia real: fábricas, infraestrutura, tecnologia.

No acumulado de 12 meses, o IDP chegou a US$ 80,081 bilhões, representando 3,63% do PIB. Isso é fundamental, porque é dinheiro que entra no país de forma sustentável, sem criar dívida de curto prazo.

Além disso, houve entrada líquida de US$ 3,213 bilhões em investimentos em carteira (ações e títulos). As reservas internacionais do país também cresceram, chegando a US$ 357,103 bilhões.

O que isso significa para quem empreende?

Se você importa produtos, precisa ficar de olho: qualquer pressão adicional sobre o dólar pode encarecer ainda mais seus custos. A alta nos serviços digitais também é um alerta para quem usa ferramentas estrangeiras no dia a dia — considere alternativas nacionais quando possível.

Por outro lado, se você exporta ou atua em setores que atraem investimento estrangeiro, o cenário continua favorável. O agronegócio, a tecnologia e a infraestrutura seguem como motores da entrada de dólares no país.

Conclusão

Outubro trouxe um alívio pontual nas contas externas, mas o quadro geral ainda preocupa. O déficit acumulado em 12 meses está crescendo, e a dependência de capital externo continua alta. A boa notícia é que esse rombo está sendo financiado de forma saudável, com investimentos produtivos de longo prazo.

Para o empreendedor brasileiro, a mensagem é clara: fique atento ao câmbio, diversifique fornecedores e, sempre que possível, busque soluções que reduzam a dependência de serviços e produtos importados. O cenário externo está instável, e quem se preparar melhor vai sair na frente.

Fonte: Agência Brasil

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