Os primeiros ataques da política comercial protecionista do presidente Donald Trump não vêm sendo justificados por motivos comerciais, mas por imposições de outra ordem.
As tarifas decretadas sobre a Colômbia, depois retiradas, tiveram a ver com a recusa do presidente Gustavo Petro de aceitar a repatriação de imigrantes. As que seriam impostas ao México e ao Canadá, mas adiadas por 30 dias, foram explicadas como represália tanto à facilidade de movimentação de imigrantes quanto à entrada de narcóticos pelas fronteiras com os Estados Unidos. As da China parecem mais relacionadas com a suposta influência sobre o Canal do Panamá do que com a agressividade de suas exportações.
Quanto às ameaças de tarifaço sobre a União Europeia, Trump as justifica “porque eles nos vêm tratando mal”. Mas, nesse caso, as queixas são de duas ordens: baixa disposição dos europeus de cobrir despesas com defesa e também restrições à compra de veículos e de produtos agrícolas dos Estados Unidos.
Ou seja, os tarifaços determinados por Trump passaram a ser o mecanismo pelo qual pretende impor seus objetivos de política externa que extrapolam questões de comércio exterior que, nos Estados Unidos, são prerrogativas do Congresso, e não do Executivo.
Muito se falou sobre os efeitos imediatos dessas investidas. Distorcem os fluxos de produção e comercialização; são inflacionárias nos Estados Unidos, porque aumentam os preços de produtos importados importantes; exigirão aumento dos juros pelo Fed (banco central); juros mais altos aumentarão o serviço da dívida do Tesouro dos Estados Unidos; e criarão incertezas no mercado financeiro global, na medida em que alteram os fluxos e cotações das moedas.
A percepção de que esse jogo duro é negociável, como ficou demonstrado nos casos da Colômbia, México, Canadá e, provavelmente, China, acrescenta às já existentes nova ordem de incertezas.
Trump impôs tarifas para Colômbia, México, Canadá, mas recuou temporariamente após negiciações. Foto: Alex Brandon/AP
Se os tarifaços persistirem, muitas empresas serão obrigadas a se transferir para o país que proporcionar as tarifas mais favoráveis. Ou, então, a rever sua pauta de comércio exterior. Mas, se as coisas podem mudar com meia dúzia de telefonemas entre chefes de governo dos países envolvidos, fica tudo muito instável e sujeito aos humores políticos da hora.
Como essa política comercial do presidente Trump pode funcionar como bumerangue e atingir em cheio também a economia americana, e como não se conhece ainda o efeito de eventuais represálias dos países atingidos por ela – fica difícil saber o que prevalecerá e até onde pretende chegar o governo dos Estados Unidos.
O Brasil ainda não se tornou alvo preferencial da artilharia do governo dos Estados Unidos. Nada garante que não será. Mesmo antes da declaração da sua preferência pela candidata Kamala Harris, Lula não entrou na lista dos admirados pelo presidente Trump.
Fonte: Estadão | As Últimas Notícias do Brasil e do Mundo
